Fuga do intelecto
"Quanto mais me elevo, menor fico aos olhos de quem não sabe voar." Friedrich Nietzsche
domingo, 22 de setembro de 2013
Facilidade de andar às escuras.
Vez ou outra
acordo sem acordar.
Raciocínio que amanhece
pesado.
Cérebro de concreto
e visão de estátua.
Minha vida é
a enxaqueca de sempre.
O peito vai bem:
Um mais um
é um.
[D(eus.)]
Mas o estômago não:
Concatenação anoréxica.
Dormi bem.
Mas sonhei mal.
Não sei
(nunca sei)
explicar minha cabeça.
Se fico deitado
enlouqueço.
Se me levanto
sinto dor.
A cor do dia
mudou muito hoje.
Não sei quanto vale o hoje sem ontem...
Sou humano demais.
Quero sumir
mas quero ficar.
Ígor Andrade
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terça-feira, 27 de agosto de 2013
Café puro
Tudo muda o tempo todo.
O tempo todo muda tudo.
O todo muda o tempo.
A muda é tudo.
Ígor Andrade
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segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Mais um calo
De vez em quando sou feliz.
Sem saber da felicidade.
O sono tranquilo
depois da declaração de amor.
Semanas dormindo de olho aberto.
O dia começa.
Vou padecer em qualquer lugar.
Pelo menos tem peito de frango pro almoço.
A gente é o que a gente come?
Vou ciscar nas palavras...
Estômago que ronca saudade escreve melhor.
De vez em quando sou o que quero ser.
Ígor Andrade
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domingo, 25 de agosto de 2013
Você pensa que é fácil?
Sou aquele que sofre
sem sofrer.
Dizendo que tudo é dor.
Sem doer de fato.
O porta-retrato
foi pro mato...
Tudo nesse mundo é morte!
Sou de Marte e não tenho sorte.
Forte foi meu cão que faleceu.
(Tato gelado que se irrita com a suadeira. Na beira do abismo uma pêra. Eu queria, mas não posso. Eu passo. E vou passando...)
É como ter um ácido no estômago
que queima sem queimar.
E sem querer eu digo o que penso
sem pensar.
Estou próximo de mim
mas sou longe.
Monge lascado de fome.
Nome de imperador na boca do sapo.
Papo de maluco.
Onde está aquilo que saí a procurar por tanto tempo?
Ígor Andrade
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sábado, 24 de agosto de 2013
Ver(de)
De tanto caminhar na escuridão
(desarmado e mudo)
me acostumei a não enxergar
o próximo passo.
Cansaço
de trinta e dois anos
e alguns dias.
Passei até aqui
uma vida de raiva e ódio
e ócio.
Um tal negócio
que não sei negociar.
Tenho alguma consciência
de que isso tudo não me faz um sujeito melhor.
Mas alimenta um monstro
que crio cuidadosamente
e é necessário.
Só me resta deixá-lo crescer...
Ígor Andrade
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Melatonina
Desmedidamente meu dia amanhece.
Esqueço do frio.
Minha mente aquece
qualquer sentimento.
Não minto
minha insurgente desmesura.
A xícara com café amargo apura
meu paladar sofrido.
Tenho sido muito pouco.
Eu preciso de mais para sobreviver.
Ígor Andrade
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segunda-feira, 22 de julho de 2013
O canto do dedão inflamado
Haja calçada
para tanto pé.
Só digo isso
hoje
porque não topei
nos meus pensamentos.
Ígor Andrade
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O de sempre, sempre
O Papa tem Deus no coração.
A política tem o povo na mão.
O circo, o palhaço e o pão.
O que falta?
Ígor Andrade
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quarta-feira, 3 de julho de 2013
É
Eu preciso reduzir
tudo o que penso
para entender
o que não sei.
O que não sei
simplesmente
se entende sem precisão
e não se reduz.
Ígor Andrade
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domingo, 2 de junho de 2013
De vagar
Minha vida é teórica demais.
O pior é que gosto disso.
Vivo de cara pro céu.
Esperando o próximo poema.
De repente chove.
Fico parcialmente feliz
quando vejo um cão atravessar a rua.
Nunca entendo onde começa o dia
nem onde termina a noite.
O tempo presente é complicado
e simples demais.
Não sinto que sou único.
Mas sei que sou único.
Minha barriga ronca acordada.
Dormi mal e sonhei pouco.
Hoje.
Domingo é o melhor dia da semana.
Talvez por isso termine tão rápido.
Ígor Andrade
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quinta-feira, 30 de maio de 2013
Um texto oxigenado
Hoje acordei no fim do mês. Talvez, neste tal mundo. Imundo. Não mudo a cor da tarde e pouco lembro do que foi cedo. Sinto um medo de não sei o quê. Posso até me perder nesta fome toda de não saber pensar. Posso até pesar, antes de ter amado. Um poeta armado... de solidão. Então, hoje é feriado! Ninguém foi trabalhar, mas todo mundo tem preguiça. Todo mundo tem cobiça, e não quer trabalhar também amanhã. Santa missa que o padre fala com as paredes. Feriado ferido. Todo ser humano tem amigo. Eu não. Em vão. Se vão. O cifrão não fala a minha língua. Corpus Christi. O corpo insiste no balanço da rede. Todo nome e toda sede no altar sagrado do egoísmo. Povo besta! Povo sem lirismo. Muito ismo a esmo. Tudo no mesmo. Povo besta! Celebrar o corpo e o sangue de Cristo, pensando na farra da sexta. Este é o futuro cerebral. E eu acabei de acordar. Enquanto meu estômago cheio reclama de uma dor terrível no pé. Direito. Eu ainda acho que ando demais. Sem sair do lugar.
Ígor Andrade
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sexta-feira, 17 de maio de 2013
Praticando a tarde
Tato denso.
Teto tenso.
Feto imenso.
Imerso e manso.
Fato tanso.
Canso.
Não danço.
Feito ganso.
Amanso o lago.
E descanso leigo.
Ígor Andrade
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terça-feira, 14 de maio de 2013
A flor do sinal
Para minha mãe Rejane Maria, minha tia Regina Pinho e minha sogra Dona Lucivanda.
O que é ser mãe?
É ser tudo.
Poesia de nascer
no presente do absurdo.
É o maior mundo
e todas as suas possibilidades
de fazer o melhor.
É sentir-se o pó
num dia cansativo de um filho febril.
É ser mil
mesmo que seja pouco.
Porque até para cada louco
existiu um útero puro.
Ser mãe
é colher maduro
antes da semente.
Divindade que não sente
dor
nem frio.
Eu me arrepio
quando penso na minha mãe.
Quer entender o que significa força?
Observe uma criança comer
enquanto a mãe sente fome.
Ter uma mãe é ter um nome
na eternidade de todo paraíso.
E para todo riso
existe uma mesa farta
num almoço de domingo.
E para cada barriga cheia
existe uma lágrima de alegria
num travesseiro tranquilo.
Ser isso e aquilo
e cuidar em ter cuidado.
Curar enquanto a vida durar.
Ser mãe é um viver laborioso
num laboratório desértico.
Antes do pai
a mãe é o lógico
além do ético.
E todo parir é uma oração.
Ser mãe
e sermão
verbo estar sem estação
de um estado longe.
Toda mãe é um monge
que não precisa meditar.
Hoje me sobra palavra
mas me falta o ar.
Hoje me sinto alguém.
Amor de mãe.
Amém.
Amei
e sou amado.
("Vocês, mães, são os meus amores!" E só esta frase já seria o meu melhor poema...)
Ígor Andrade
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quinta-feira, 9 de maio de 2013
É assim tão meu o teu nascer
Para minha mulher-amiga-companheira, meu maior amor, Rafaela Bezerra.
(Muita paz e saúde neste teu outro nascimento!)
Onde estou
pouco me interessa.
Não tenho pressa.
Mas tenho prosa.
Carrego tua saudade sempre
e hoje roubei pra ti uma rosa
dos jardins do uni-verso.
Sou um morador das janelas
que te desenha na madrugada.
Agora eu tenho tudo
muito depois do antes
de ter nada.
Poemo teus sorrisos infinitos
no nosso silêncio falante
tão nosso.
Você pode e eu posso
alcançar o pra sempre.
Pra sempre.
Sem parar.
Eu consigo te olhar
sem esquecer
que posso conseguir
e vou seguir
cada amanhecer
do que você olha.
Esqueça do mundo.
O cego ficou surdo
de tanto não saber lembrar.
Procurar
a mesma pergunta
é encontrar a mesma resposta.
Encosta
teu olhar no meu horizonte,
minha parte que é um todo,
meu parto de escrita,
minha ponte:
Com quem estou
é que importa.
O fato, o feto e a fonte.
Aorta
minha
no teu peito.
Não tem outro jeito.
Nosso amor tem feito
uma vida bem melhor.
Ígor Andrade
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quarta-feira, 1 de maio de 2013
Disse o mendigo
Riqueza mesmo
é sonhar
sem pobreza.
Ígor Andrade
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quarta-feira, 24 de abril de 2013
A chuva não adiantou
O dia foi quente.
O dia do crente.
O dia sem dente.
O dia não mente
o dia.
Um monte de gente
não sente
o que sinto.
O dia é um labirinto
que começa na noite
mal dormida.
Ígor Andrade
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domingo, 7 de abril de 2013
Café forte e cabeça fraca
Ando me alimentando mal
mas não faz mal,
eu faço o bem
só não sei pra quem.
Talvez para os outros,
os que se alimentam bem.
Bem, eu acho.
Só não acho mesmo
o caminho de quem sozinho
passa fome.
O nome do estômago
tem outro nome
e eu não imagino
porque estou falando disso.
Há muito que sinto a barriga roncar
na miséria soberba de minha ignorância.
Uma mistura de isolamento moral
com afastamento do céu.
De certo meu domingo é o véu
que cobre o sono de quem é cego.
Ígor Andrade
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sábado, 6 de abril de 2013
Confusão do além
Onde está
o deus do outro
no outro deus?
Ígor Andrade
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sexta-feira, 5 de abril de 2013
Budweiser
Uma sede só.
Uma só sede.
Fico olhando a cama,
mas quero o balanço da rede.
A rede
...
que era verde
e que eu não vendo.
Esperança na varanda
relendo
o escuro da noite.
Noite de sede só.
Foice que corta o nó.
Do sangue ao pó.
Tenho dor.
...
Cerveja que tenta
não congelar numa brastemp.
Ígor Andrade
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quinta-feira, 28 de março de 2013
Depois da chuva
Quantos anos tem março?
O que é a mentira na "semana santa"?
Quem cuida do calor?
O que o juízo disse pra saudade?
Quanto silêncio cabe numa xícara de café?
Ígor Andrade
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Esqueletos
No calor o poeta
escreve melhor.
Suor que escorre no pescoço.
Garganta que não vive sem um nó.
Nunca estou só.
Minha mente é uma boa companhia.
Outro dia plantei sementes
com o olhar -
outro dia...
Já não me desespero mais.
Ando vivendo calmarias
(esquisitas).
Desde a explosão Cambriana
os crepúsculos são todos iguais
e diferentes.
Pouco se sabe.
Muito se sente.
Mente quem sente que sabe.
Não quero mais nada.
Eu perco o chão
e acho uma palavra.
Eu perco uma palavra
e encontro um céu.
O chapéu
de um velho
entende a vida que passou.
Hoje compreendo
a calvície de meu pai.
Tudo vai
e vem
como esta tarde.
Ígor Andrade
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Dromedário
O dia amanhece
e eu também.
O povo vai pro trabalho
depois do sereno.
Tudo parece pleno
e eu tenho um plano.
Mas não posso contar.
Talvez um dia.
A poesia
vai dominar o planeta.
Talvez depois do sono.
Cão sem dono não morde.
Esse silêncio me lembra infância.
A conta da poupança vazia.
Minha janela sorri.
Ígor Andrade
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