sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dromedário


O dia amanhece
e eu também.
O povo vai pro trabalho
depois do sereno.
Tudo parece pleno
e eu tenho um plano.
Mas não posso contar.
Talvez um dia.
A poesia
vai dominar o planeta.
Talvez depois do sono.
Cão sem dono não morde.
Esse silêncio me lembra infância.
A conta da poupança vazia.
Minha janela sorri.


Ígor Andrade

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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A história da vida


Perto do Natal
meu sono aumenta.
Ninguém nasce neste poema
antes de mim.

Dezembro vai chegando ao fim.
De certo tudo meio assim.
Sei lá.
Há muito que o muito nos sufoca.

O ano vai acabar.
O mundo já acabou faz tempo.

O que dizer do meu concretismo?
Um ismo a esmo...
O mesmo antes do abismo.
Idealismo sem idéias.

Não gosto do Natal.
O povo se reúne e não sabe porquê.
Apareceu na tevê então deve ser bom.
O povo não conhece Drummond
e acha que entende das tardes.

Num dia quente como este...
sinceramente eu torço 
para que ninguém se mate no trânsito.

Meu dorso 
pesando uma tonelada
pede paz.


Ígor Andrade

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Recorrente


Ando sonhando muito com meu irmão
chorando.
Falando um idioma esquisito.

Não consigo entender.
Não consigo esquecer.

A gente senta num banco velho
e pede um café pra nossa mãe.
Isso dura a vida toda.

Sonho doido.
Sou tão pouco.

A praça da calmaria foi abandonada.

Levo duas horas pra acordar.
O ar leva meio minuto pra sufocar alguém.

Meu irmão com cara de gente sofrida.
O cara que era o cara
não cura mais a ferida aberta.

Acordo mas o sonho não passa;
o sonho da praça.

Eu sei que meu irmão sofre
quando faz silêncio.
Sujeito difícil.
Edifício erguido na fraternidade imortal.

Um mar de lágrimas
que não seca com o tempo.
Embarcação com um medo profundo
de afundar.


Ígor Andrade

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Litígio vespertino


No meu cansaço perdido
descanso.
Um bom descanso querido.
Encontro sagrado.
Alcanço outro cansaço sofrido.
Mundo parado.
Quem caminha sou eu
seja lá com que perna for.
Sabe-se lá com que dor se cresce.
Amadurece tudo que é verde.
Ver de perto tudo que é longe.
A constante nem sempre é miserável.
Fico aqui lembrando do quintal dos meus avós.
Mas hoje tudo é diferente.
Pela frente tanta coisa que parece gente.
Tanta gente que parece coisa.
Outra coisa é perceber que mudamos.
Ou amamos o que temos
ou largamos o que sonhamos.
Somos o que temos que ser agora.
Isso é tão libertador...


Ígor Andrade

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Eucarionte


Hoje amanheci pela tarde
bem tarde.
Todo torto.
Algo que não consigo explicar.

Uma quarta-feira tipo segunda.
Tediosa feito papo de crente.
Chega a ser indecente
essa preguiça de não saber aceitar
agruras.

A vida pode ser dura.
Eu posso ser uma pedra.
E pronto.
Não estou pronto.

Uma batida de carro na esquina
e eu acordo sem querer.

O que estou fazendo da vida?
O que estou com a vida?

Ainda mal sei quem sou.
Banco velho de praça abandonada.
Poeira nos olhos das calçadas.
Nada me serve se a chuva cair.
Dormir para não sonhar.

Acho que estou perdendo a vontade de escrever.
A vontade de esquecer
da poesia.

Ponho no bolso mais um dia
e saio para caminhar.


Ígor Andrade

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