sexta-feira, 25 de maio de 2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Divagações de um acadêmico



Estabeleço a meta antes do mito. Eu admito, olhar qualquer rito e virar monstro. Não demonstro, piedade nem paciência. Tenho uma tendência absurda a seguir o caminho mais longo. Quem for fraco que fique pra trás. Me alongo no discurso, mas não me perco no curso da desgraça. A vida passa. Eu só faço o que quero. Espero mais de mim, e dos outros. Ficar louco nunca foi opção. Sanidade jogada no mato. Tudo morto, por aí! Por aqui tudo vive. O alívio do dia vem com a dor. Físico sem física. Mente sem mentir, pra si mesmo. O mesmo antes do mesmo. O máximo inalcançável. O mínimo e nós. Laços abertos. Braços fechados. Espaços infinitos. O inchaço do pedaço do peito do pedante. O instante, antes do estado. Peso pesado parado no tempo. A gota de suor pinga no chão. Mão forte. Vou longe quando estou distante.




Ígor Andrade

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sábado, 19 de maio de 2012

(H)ora



Mora em mim a simplicidade
dos primeiros degraus
de uma longa escadaria.
Hoje eu diria
que sou a casa velha
de mim mesmo.
Necessidade de ser tantos
na escrita sem religião.




Ígor Andrade

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31



Hoje como ontem.
Ontem como tudo.
Tudo como antes.
Antes como sempre.
Sempre como agora.
Agora como hoje.


O tempo se confunde 
se você pensa na idade.
Chego nos trinta e um
com a mesma disposição
dos quinze.
Mas a preguiça que sinto
do ser humano
me acompanha até o fim.


Trinta e um
e o lugar comum
é a mente.


Não sinto saudade de gente
do passado
e tenho passado bem.
Antes a dor de cabeça
do que perder o trem.


Muito vem
se você não vai
adiante 
olhando pra trás.
Não adianta
o sentido anti-horário.
Anti-séptico bucal
também faz mal.


Sigo anti-social
e encontrei a mulher da minha vida.
Sinal que não estou perdido.
Pedido pra esta noite: cerveja, e nada mais.


Hoje a poesia é que faz aniversário...




Ígor Andrade

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terça-feira, 15 de maio de 2012

A morada mora no ir



Tenho feito mais do que posso.
Tenho falado menos do que devia.
Tenho sido o que qualquer um seria.
Tenho pensado no que é nosso.


Tenho na palavra o consolo.
Tenho no olhar o colo.
Tenho a poesia no solo.
Tenho música no miolo.


Tenho tanta coisa.
Inabilidade casta.
Tenho mais que um verbo.
E isso não basta.




Ígor Andrade

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sábado, 12 de maio de 2012

Rumo ao estúdio



O sábado pede calma. Não, o sábado pede alma. Palmas para o isolamento. Isola o lamento e abraça a arte. Música que já faz parte do futuro. Literatura que é toda parte de mim. Passei um passado em silêncio, e este presente silício exige qualquer coisa além do inacabável. Incansável perfeccionismo. Muito ismo para pouco esmo. Isso mesmo, tudo hoje, tudo nosso. Inexorável é o ouvido do tempo.




Ígor Andrade


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Joelho direito



Minha mãe anda desanimada
por causa do seu joelho.
Minha mãe operou o joelho
e agora não está andando.


Uma queda perto dos sessenta
te senta por uma eternidade.
Deve ser chato demais
acordar entre muletas e andador.


Anda a dor, mas não andam as pernas...
Deve ser ruim demais depender de alguém.


Minha mãe anda desanimada
agora com uma placa de não sei o quê
e dois parafusos no joelho.


Minha mãe num dia qualquer
quando tudo estiver bem
vai desanimar de novo
numa porta giratória do bradesco.


O grotesco 
da vida é articular
nossas adaptações aos nossos dias.


Minha mãe anda desanimada
mas meu joelho vai bem.
E nem de banco eu gosto!




Ígor Andrade

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terça-feira, 8 de maio de 2012

Brotherhood



Para o amigo-irmão Victor Ramos.


O mundo está cheio de gente que nada vale.
O mundo está cheio de gente.
O mundo está cheio.


Mas quando penso em amizade,
em parceria e irmandade,
aí eu que fico cheio.


Quem não assume que se sente completo com grandes amigos por perto é de longe um covarde medroso e vazio.


O mundo está cheio de sujeito vazio.
E eu já não acredito tanto assim no mundo.


O mundo parece tão maldito às vezes
e às vezes eu preciso lembrar que conheci grandes guerreiros.
Sim... guerreiros. 
Aqueles caras que sempre seguem em frente
enquanto os outros desistem, sabe?
E você é um deles!
Sujeito homem que honra o sangue.
Soldado valente que luta pela família.


O homem que não tem um amigo
é uma ilha.
E logo desaparecerá.


E eu não acredito em fantasmas.


Mas acredito na nossa luta.
Acredito acima de tudo na disciplina do cultivo da força
que praticamos com tanto esmero.
Considero tudo que fazemos
como uma teimosia evolutiva
que não cansa nunca.


Hoje passei algum tempo pensando
na vida que tive durante esses trinta anos
e concluo que são poucos os que quero levar até o meu fim.


O mundo está cheio de calçadas vazias
e esquinas sujas.
Casas pobres que as águas levam nas enchentes.
O mundo está cheio de desgraça.
É na topada que a vida passa.
E a pedra de uma tonelada que carregamos diariamente
no lombo sofrido dos pensadores
é o que nos torna mais gente.
Somos os construtores de uma fortaleza
indestrutível e inimaginável
e nada mais.


O dia que começa com artes marciais
e termina com a hipertrofia dos juízos
é só uma parte de nossas capacidades como super-humanos.


Hoje estava pensando na vida
e resolvi escrever pra você, meu amigo.
O mundo não sabe da gente
e eu não estou nem aí pra isso.




Ígor Andrade

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sábado, 5 de maio de 2012

Substantivo peregrino


Parei no tempo
ou o tempo é que parou em mim.
Acordo com a sensação de que preciso do silêncio
e não preciso do calor.

Já não se fazem mais tardes frias como antigamente.
Já não se fazem mais antigamentes como antigamente.
Já não se fazem mais fazeres que prestem.

Antigamente eu até fazia mais
por alguém
por alguns.
Não sei explicar direito como isso funciona.
Eu sei explicar como funciono melhor:
Crio inimigos imaginários para tentar compreender a guerra.
A alma encerra
em si
o que a gente não aceita.
Minha raiva deita
no chão
do lado da minha cadela
que dorme de barriga pra cima.
A calma rima
com um talvez de saudade.

Há um tempo atrás tinha menos do que tenho.
E não falo de dinheiro, falo de conhecimento.
Por um momento percebo que não conheci muita gente de lá pra cá.
Não sinto que faço parte da sociedade.
E não compartilho minhas dores com o mundo.
Tem muito ser humano imundo que não merece minha atenção.
Considero os que fazem parte da minha vida até a morte.
Fortes somos.
"E que se fodam os fracos e corruptos!"
Uns poucos me são muitos, como os amigos de academia.
Quem diria que a força bruta fosse ser tão companheira?

Hoje vou pegar minha vontade de isolamento
e partir rumo a intelectualidade verdadeira.
Imortalidade de entendimentos.
Instrumentos que executam o vazio.

Repito:
Aqui não faz frio, faz calor.

Mas tenho as mãos geladas
e suadas.

Ainda não almocei...

Eu sei
mais do sábado do que ele mesmo...

...

O sábado é um sujeito sozinho, perdido num quarto branco, preocupado mais com as cervejas na geladeira do que com o aquecimento global, e não gosta de gente. O sábado sente que precisa de algo que não existe. E o que existe precisa da noite, e não do domingo.

O sábado sabe.
O sábado sobe.
O sábado e o sabre.
Sóbrio é que não vou ficar.


Ígor Andrade

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Zeitgeist naufragado



Perto de mim nasceu a urgência. Uma necessidade de não sei o quê e não sei quando. Uma conjugação de noites em que paro para pensar no que não tenho, no que não construí. Porque no fundo ninguém constrói. O concreto mente nas linhas. Entrelinhas acimentadas na imaginação. Mente que parece um verso. Um viver retilíneo que adora as curvas. A sombra na estrada enquanto o inverso de mim sou eu mesmo. Mesmo. Sem modo parece o outro. (Um minuto pro gole de café e a promessa que nunca farei.) Vida essa que parece a seguinte... Gente viva que parece morta. Aorta manhosa que parece solidão. Visão de um que entorta... a voz do outro. Tanta porta que não vai se abrir. Separação. Separo a reticência do vazio numa prateleira bem alta. Nunca alcançarei meu interior. Punho fechado que não quer mais escrever. Um desvio na noite e uma ilusão no retrovisor. Eu sou um reflexo no escuro. Ser humano impuro desde quando largou o ventre. Uma pressa uterina de paz. Longe daqui tudo é surdez. A rigidez dos dias que se esvaem, sem chuva, e a timidez das noites que nunca passam, sem lua. Minha janela é uma mulher nua, que não me quer. Tenho uma ligeira impressão que o silêncio joga xadrez com a cegueira, e não existe vitória neste mundo. Sou humano demais para entender qualquer coisa. O abstrato é uma ilusão acalorada no frio do deserto.




Ígor Andrade

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terça-feira, 1 de maio de 2012

DescARTE este poema



Arte é esquecer da arte.
Arte é entender a morte.
Arte é ignorar a sorte.
Arte é viver em Marte.




Ígor Andrade

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R a f a e l a



Sempre te vejo indo.
Sempre te vejo chegando.
Sempre me vejo faltando.
Sempre me vejo sentindo.


O sempre é o nosso advérbio preferido.
Nós mudamos nossos verbos e nosso tempo é esculpido
pela saudade.


Não há nada que roube você do meu pensamento.


Numa hora minha cama é tua
e na outra o teu cheiro é meu.
A presença é o pouco de quem não sente tudo.


Sinto tudo
mas não fico mudo:
O mundo é você.


Sempre me vejo seguindo
teus passos preciosos.
Sempre me vejo conseguindo
qualquer coisa que seja
pro teu sorriso aparecer.


Eu não mereço você.


E sempre te vejo voltando.




Ígor Andrade

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