domingo, 27 de novembro de 2011

Declaro quatro amores

Declaro quatro amores:

Um já enterrado na casa perto da praia.
Onde a brisa fria alisa o túmulo.
Cúmulo da saudade embaixo da terra.

(Hoje deveria chover...)

Outro amor eu guardo no peito.
Aquele silêncio do predicado antes do sujeito.
Norma clara do padrão escuro feito pra confundir.
Obra-prima-filha-e-mãe do tempo.

(Lembrança é calor!)

Um terceiro amor ainda não nasceu
mas já o declaro por pura agonia.
Me afobo quando amo -
qualquer coisa que seja antes do nascimento
e sobretudo reclamo
todo o vazio que é solidão.

(Domingo é um berço estranho.)

O último amor
eu chamo de primeiro
que pode ser segundo ou terceiro
e veio antes de mim.
Fantasma, vício ou virtude...
Amplitude máxima dessa existência
que é uma insistência no ódio.

Silêncio...
Declarar é o ópio imbecil do pobre sentimental.

(Antes da noite
nesta tarde miserável
uma cadela prenha
uiva as penúrias da teimosia da raça.)

Declaro amores pro invisível
e antes de qualquer questionamento
declaro que não amar deve ser melhor.



Ígor Andrade

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4 comentários:

Anônimo disse...

Você declara quatro amores, enquanto eu declaro apenas um: o amor às suas palavras. Como é bom de ler, querido! Amo tuas palavras, amo ler-te. Grande beijo!

Au revoir :)

Anônimo disse...

E EU DECLARO MEU AMOR POR VOCÊ, MEU FIEL COMPANHEIRO E IRMÃO! SÓ NÓS SABEMOS O QUE SE PASSOU E PASSA... LET´S GO TO THE TRAIN!


NO PAIN, NO GAIN!

Anônimo disse...

Declaremos e vivemos então... Essa foi P tomar uma empalhada e escutar Cartola... rssss!

Você é o cara, aliás o POETA!

Marcelino disse...

Quem canta o amor tão bem deve estar blefando qdo diz achar que não amar deve ser melhor. Tudo bem: blefar faz parte desta arte de encantar pelas palavras.